domingo, 26 de fevereiro de 2012

CRIANÇAS E ADOLESCENTES ABANDONOS À PRÓPRIA SORTE PELO BRASIL

A questão, no entanto, tem outras implicações que dizem respeito não somente às instituições, mas ao nosso próprio modelo de sociedade.
A verdade é que crianças e adolescentes perambulando pelas ruas, sujos e maltrapilhos, em grupos e fora da escola, esfomeados, pedindo esmolas ou consumindo drogas não constituem novidade a ninguém. É uma visão comum, com a qual nos habituamos a ponto de incorporá-la à nossa paisagem urbana. Estão ali, onde todos sabem, nos sinais, nas portas de supermercados, nas praças, abandonados à própria sorte.
Não raro, absortos em nossos compromissos, sequer reparamos neles com atenção. Muito provavelmente, os policiais, embora tivessem a obrigação de ter um olhar atento e seletivo para situações como essas, são traídos por essa displicência geral que temos para com a infância e a juventude.
A filosofá alemã Hannah Arendt, ao estudar a natureza do nazismo no livro Eichmann em Jerusalém, cunhou a expressão “banalidade do mal”para definir uma propensão comum aos seres humanos. Trata-se da capacidade de burocratizar o sofrimento alheio, por meio de uma indiferença disfarçada de impessoalidade. É assim que, fazendo um paralelo com o caso em questão, as crianças e adolescentes que vivem nas ruas viram um “problema social”, assim, distantes, sem rostos, abstrações sem endereço ou nome próprio.
Vivemos anestesiados, incapazes de sentir indignação com aquilo que, para nós, apesar dos discursos bonitos, é banal, comum. Não são somente os policiais que não enxergam essas crianças e adolescentes. Retirá-las das ruas e encaminhá-las para onde pudessem crescer com alguma dignidade não é uma prioridade para gestores públicos, autoridades de segurança, magistrados, educadores, médicos e outros tantos, porque o descaso deles é, no fundo, reflexo do nosso próprio descaso.

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Artigo 227 da Constituição)

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